Novos Pássaros Solitários

Melhor que mergulhar nos meus devaneios, é mergulhar nos devaneios alheios. Ás vezes, sinto que parece ser tão difícil encontrar pessoas neste mundinho que vão além das coisas normais, que pensem um pouco mais do que o ‘querer/desejar/conseguir’, mas de repente, Krishna coloca em meu caminho outros caminhos, outras estradas, às vezes conturbadas, sinuosas, tortuosas, mas cheias de verdade e de esperança de ser além matéria/rotina/etc e tal. No Bhagavad Gita é dito que:

“Dentre muitos milhares de homens, talvez haja um que se esforce para obter perfeição, e dentre aqueles que alcançaram a perfeição, é difícil encontrar um que Me conheça de verdade”(cap. 7, verso 3)

Então, eu, com imensa gratidão, tenho encontrado seres especiais, que buscam um objetivo real da vida, que tem outros olhos sobre os ‘óbvios’, olhos como os de Jaque:

“Essa tal coisa de ‘terser’

…E a gente tem essa urgência de ser e ter que não dá tempo para nada.
Queria ser ao meu tempo,
queria ter se desse
queria descobrir a qualquer hora,
mas me exigem que eu seja, feliz.
A gente é e precisa ter urgentemente;
senão a gente morre não sendo nada,
mas ainda precisando ter.
Quero esperar o dia amanhecer para decidir se sou.
Mas, por enquanto, carrego a urgência embaixo do braço
e vou caminhando com ela,
conversando no seu pé de ouvido.”

Quem é este ser em meio a tantos ‘ter’ que estipulam e corrigem e adestram o ‘ser’? Essa é minha questão. Até onde vai sua vida nesta infinita corrida pelo ser feliz hoje e agora e com regras específicas ? (!). Este foi o pensamento de Jaque. Uma alma rara, única, singular.

Parece que o canto dos pássaros solitários está fazendo sua orquestra…

Ainda bem…

(Ei, pássaros solitários! Falem, comentem, cantem!)

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O Quebra-Cabeça

Meu pensamento de hoje irá puxar uma idéia bem complicadinha mas que sempre nos persegue: a Certeza.

Tenho passado por muitas experiências de consolidação de perspectivas de planos, de coisas do futuro. Estou num momento de reoorganização do quebra-cabeça da minha vida, porém, toda vez que olho pra esse quebra-cabeça quase completo, tão bonitinho, tão certinho, em vez de sentir um natural alívio de ‘pronto, agora minha vida está certinha!’, o que surge em mim é: ‘como posso ter certeza da certeza? quem me garante que esse quebra-cabeça permanecerá inteiro?’. Normalmente esta sensação nos aflige quando algo de inesperado nos acontece: um acidente, a morte de alguém querido, a perda de um emprego, a notícia de uma gravidez. Em algum momento da nossa vida, quando tudo parecia se encaminhar tão bem, tão tranquilamente, de repente, torna-se um turbilhão que nos engole e nos deixa tão perplexos, tão assustados, com a sensação de que fomos enganados pela certeza da vida.

Cada vez mais intelectuais e estudiosos têm se voltado a questão do caos, do incerto, do constante mutável como algo inevitável na nossa vida que precisamos aprender a conviver. O ser humano hoje não pode mais ter certeza de nada: do que acredita, do que tem, do que ganhou, do que vai ganhar. Vivemos na era das calamidades, das doenças inesperadas, das guerras assustadoras, dos perigos que de evitáveis se tornam inevitáveis. É dito em uma  das escrituras da consciência de Krishna que este mundo é ‘um perigo a cada passo’, expressão que condiz bem com as análises mostradas anteriormente, porém, será que é assim que temos que viver? Conformados com a idéia de que nada é certo? E voltando-se o olhar para o outro lado: porque queremos a certeza? Por que queremos as coisas do jeito que estão? Acho que a certeza nos dá um certo sentido de segurança e de controle e a incerteza, consequentemente, nos tira todos estes sentidos. A incerteza nos coloca na posição de não controladores, não senhores de nossas vidas, não independentes, mas sim controlados e dependentes de um conjunto maior que é este mundo, que é esta vida. Porém, se observarmos os grandes santos da humanidade o que mais transparece em seus discursos é uma tranquilidade e paz em meio as incertezas deste mundo. Eles parecem ter a certeza de algo mesmo em meio as calamidades desta natureza material. Eles parecem não sentirem o externo, as dualidades da vida, as incertezas da vida. Parece existir algo de resoluto em seus corações. Mas o que seria isso?  

” Esta minha energia divina que consiste nos três modos é muito difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la” (Bhagavad Gita, Capítulo 7, verso 14)

A rendição. Esta parece ser a palavra que define esta certeza dos santos em meio as incertezas e calamidades da vida. Render-se ao Supremo, render-se ao Eterno, render-se ao que nos completa e que é a fonte dos certos e errados, dos bons e ruins. Talvez meu maior problema em lidar com este quebra-cabeça encaixadinho da vida é minha falta de compreensão de que ele já está completo há muito tempo e que depende de mim apenas fazer com que ele seja visto por meus olhos pequenos e limitados. Talvez cada etapa de certeza da minha vida seja mais um motivo para eu desistir de montar meu quebra-cabeça, de ser a controladora das peças da minha vida. O que apenas preciso é me render e assim, quem sabe, ver meu quebra-cabeça  pronto, encaixado e completado pelo Senhor da minha existência…

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O Tempo 26

O que muitas vezes eu escrevo neste blog são análises minhas baseadas no processo espiritual que sigo. Porém, hoje, o que vou escrever trata-se mais de uma confissão, uma exibição de uma fraqueza minha que sempre aparece na minha mente na época em que mudo de idade.

Aniversário para mim remete imediatamente a idéia de tempo e da relação confusa e estranha que tenho com este.

Desde nova nunca entendi bem o tempo.

Sempre me senti um boneco nas mãos dele principalmente na época em que as mudanças corpóreas (inevitáveis) da adolescência apareceram. Como nasci na geração da TV, sempre estive a espera do que tempo ia me oferecer porque com tantas informações que tinha (graças as infinitas novelas e filmes que assisti) já sabia onde, como e porque aquelas coisas estariam acontecendo comigo.

O tempo veio, me transformou, mas não mudou essa relação de “esperar”

“O que mais este bendito tempo vai me trazer?!” 

Depois, na idade adulta, veio a aprendizagem de que o tempo vem ou eu o faço vir a mim.

Veio a sensação de que devo ter o tempo sob controle.

(…)

Veio o momento de criar planos na linha do tempo.

(…)

 Estudar, trabalhar, casar – foi nessa análise do tempo que iniciaram meios questionamentos sobre a existência.

Os questionamentos vieram, o caminho para as respostas também veio, mas minha relação com o tempo ainda está aqui em mim. É sempre a mesma coisa.

A mesma sensação…

(?)

O ano chegou, o ano passou.. E eu? O que eu fiz? Quem eu sou com 24, com 25, com 26? Será que estou muito velha para certas coisas? Ou muito nova? Muito velha pra ter meu emprego e morar só? Muito nova para casar e ter filhos? E lá vai o tempo me arrastando, me puxando, me avisando que ele se esgota.

 Num livro da filosofia da consciência de Krishna que estou lendo é descrito que Krishna, Deus, é o tempo e quem entende isso, não teme o tempo. Esta percepção surge da compreensão de que o tempo é, de fato, um olhar sobre a vida. Um olhar da rotina, da vida neste mundo que não extrapola os limites do ser eterno, do não-tempo. Quem compreende Krishna, entende o tempo e entende a insignificância dele diante da eternidade…

Mas não consigo (ainda) fazer tamanha compreensão disto. Vejo-me tantas vezes condicionada nas miudezas do tempo:

*o tempo dos compromissos da agenda,

*o tempo do calendário,

*o tempo do semestre da faculdade,

*o tempo do carnaval, São João e Natal,

*o tempo do sobrinho que já não é mais um bebê,

*o tempo do corpo da mãe que envelhece…

E este tempo me assusta, me espanta. Acho que na experiência que vivi no seminário, uma das coisas que mais me marcou foi que a rotina que havia lá dentro (e a não possibilidade de acessar os meios de comunicação rotineiros) me fazia deslizar no tempo sem sentir sua presença. E nesse deslize vivi alguns “deslumbres” do que pode ser a tal eternidade.

O que farei com você, tempo?!

 Como aniquilá-lo da minha mente?!

 Como sair de suas linhas? !

Como esquecer sua presença no meu corpo, nos meus desejos, nas minhas realizações?!

São só essas respostas que eu queria agora….

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Os dois, as duas

Algo tem se tornado muito comum para mim esses dias: encontrar pessoas com dúvidas. Quando falo dúvidas não me refiro há uma mera dificuldade de entender ou lidar com algo. São dúvidas mais difíceis e complicadas: as dúvidas da escolha. Sabe aqueles momentos da sua vida em que você se vê diante de dois? ou duas? Aquele momento em que você realmente se sente dono de seu destino, porém, depois da escolha, totalmente a mêrce dele? O pior é que os dois caminhos ou as duas opções normalmente nesses momentos são qualitativamente válidos com suas vantagens e desvantagens, porém, aparentemente você sabe um pouco a que futuro cada um deles vai te levar e aí vem o momento crucial: o que quero para o meu futuro?

No Bhagavad Gita é dito que a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações. Essa parece ser basicamente nossa condição nesta situação: mil e uma ramificações sem começo, nem fim que nos deixam um tanto confusos e perdidos. O Gita explica que isso surge de uma pessoa irresoluta, ou seja, não resolvida, não esclarecida do que quer. Porém, como vamos saber o que queremos? De fato, estes momentos parecem nos mostrar que nada sabemos sobre o querer, sobre nossas vontades, sobre porque, o que, como e para quê desejamos algo. Resumindo, nossos desejos, que são frutos de tantas e tantas situações desde frustrações, traumas, experiências boas, exemplos pessoais na nossa vida, fazem com que, nestes momentos, reconhecemos que não sabemos desejar ou não sabemos a dimensão do quanto isso nos afeta. E aí vem o pensamento que eu queria expor diante do que pude observar em mim e nas pessoas que estão nessa condição irresoluta: não temos referência! Não temos nada que nos guie para de certa forma canalizar nossos desejos para algo que possivelmente nos oferecerá a sensação de que entendemos porque fizemos determinada escolha, porque temos pelo menos alguma referência. Quando falo referência penso em todos os aspectos morais, éticos, religiosos, etc… Penso no que nos diferencia dos animais, no que nos possibilita crescer como seres humanos e sermos pessoas melhores. Penso no que vou construir aqui, o que vou deixar para as futuras gerações.

No Bhagavad Gita é dito que a ação é composta de cinco elementos: o esforço, a corpo, o eu, os sentidos e Deus. O eu deseja, o corpo atua, os sentidos acompanham, o esforço acontece e Deus possibilita com que a ação seja executada. Este processo descreve basicamente o caminho do tal livre-arbitrio. Esta é a nossa liberdade: a escolha. E Deus, Krishna, de acordo com o nosso karma, nos dá permissão de agir como desejamos, porém, Ele também permite com que a lei natural da ação-reação aconteça para que possamos compreender quais são as conquências de nossas ações e assim possamos notar que há uma necessidade de referência nas nossas escolhas. Bem, e se a situação for um pouco diferente? Se eu tenho um desejo, porém antes de executar, através da ação, este desejo eu peço antes a Krishna que me oriente, que me dê a referência do que deve ser feito, será que as coisas mudam? Sim, principalmente porque Krishna está acima das leis do Karma e assim ele possui um cuidado especial aqueles que querem agir em nome de Sua vontade. Esta é minha referência de vida: Krishna. Tenho um milhão de dúvidas do que quero, dos meus desejos, das minhas escolhas, porém, quando me vejo nesta situação dos dois ou duas eu escolho um: Krishna. Se alguns destes caminhos me mostrarem a possibilidade de conhecer, de servir e amar a Krishna eu sei que posso encontrar verdadeira satisfação, mesmo que seja um caminho de pedras, pedregulhos e grandes muros.

“Quando a inteligência, a mente, a fé e o refúgio de alguém estão todos fixos no Supremo, então, através do conhecimento pleno, ele purifica-se por completo dos receios e desse modo prossegue resoluto no caminho da liberação”

(Bhagavad Gita, Capítulo 5, verso 17)

Eu não sei qual é a sua referência e não estou aqui obrigando que seja a mesma que a minha, porém, gostaria que pensássemos a importância de haver uma, alguma, ou uma mínima referência na nossa vida sabendo entender a valor de nosso livre-arbítrio. Busque sua referência  e veja a que caminhos ela vai te conduzir…   

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Dentro do prisma

Leram a musiquinha, amiguinhos? muita boa, não? mas, mais do que uma boa música, ou uma boa letra, esta reflete uma abordagem sobre a nossa existência neste mundo. Onde estão as suas cores? Quais são a suas cores? Ou melhor, qual o prisma de sua vida e quais cores ele faz refletir? São as cores do amor inalcançável, do emprego bom, da família ideal, do fim das dores e lamentações, do viver o agora, o minuto intensamente, do prazer intenso, sem muito o que pensar, a entrega a vida incompreensível, mas,” se é assim, por que não aceitá-la?”

Acho que um dos maiores defeitos do ser humano está na sua necessidade constante de encontrar naturalidade em tudo: comer é natural, dormir é natural, sentir dor é natural, ser burro, ser inteligente, ser branco, negro, mulato, ser homem, ser mulher, ser este conjunto isntantâneo de átomos, moléculas, tecidos, órgãos, sistemas, esqueleto é muito, muito, muito natural, e, claro, morrer é natural! Simples assim! Será que as cores da nossa existência são o reflexo de nosso medo em querer enfrentar uma realidade um tanto estranha e dificil? Tantas e tantas pessoas que convivo me questionam muito a idéia de Deus, alma, espírito, essas coisas, porque não conseguem comprovar a existência delas, pois, para eles, apenas diante disso, eles seriam capazes de acreditar nelas(em outras palavras, apenas quando Deus, alma e espírito forem coisas “naturais”, elas poderão ser críveis). Mas será possível acreditar que você, logo você, que tem tanto conhecimento, que tem tantos sentimentos, que ama, odeia, duvida, teme, que parece ser tão igual  a tantos, mas, sempre é único, é singular nos seus erros, acertos e antipatias, pode  ser resumido a no máximo 100 anos de existência? Você é só o tempo? A criança, o jovem, o adulto, o velho, o muito velho e depois o nada?!É o que você é? Só isso? Que prisma de existência cruel é este que te resume a tão pouco?

E o que os resolutos dizem?

além das poeiras da consciência

está o caleidoscópio da luz

m.u.l.t.i.c.o.l.o.r.i.d.a.

 

emitida pela ALMA”

 

A luz de suas cores (boas ou ruins) vêm da alma, é ela que dá vida as cores da sua existência: o vermelho da vontade de amar plenamente, o azul do desejo de ser feliz, o amarelo da saudade das coisas temporárias (e porque são temporárias?), o verde do vazio, da sensação de querer mais do que sobreviver ao “dia após dia”, o rosa da sensação de algo maior, mais amplo, mas tão desconcertante, tão impressionante que você nem sabe onde começa ou termina. É a alma brilhante que emana a luz dessas cores, deste prisma meio estranho que refletem as cores meio tortuosas. Será que um dia descobriremos as verdadeiras cores? Será que enxergaremos a presença da m.u.t.i.c.o.l.o.r.i.d.a ALMA?

E eu continuo pensando nas cores…

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Música pra pensar

Tenho ouvido poucas músicas de um tempo pra cá, pois são poucas as que me despertam o interesse, como essa que estou passando para vocês. Leiam a letra, pois, logo mais, conversaremos sobre as verdadeiras cores da existência…

Onde estão as Cores?

 

 

Onde estão as Cores?

Onde estão as Cores?

Onde estão?

 

Cores da vida-cristal

Prismar o que sinto

Fabular nas ações

bem intencionadas, porém

 

lágrimas, suores, salivas, urina

são só manchas fluídas

marcadas neste dia-a-dia

(que) adia há dias dias mais felizes

É certo que encontro no certo futuro o arco-íris

 

Esquecendo-me da lente opaca

com manias que impedem ver além das cortinas do falso-espectro,

insisto na pseudo-célebre missão de encontrar pelo amor

que lá fora me espera

 

Onde estão as Cores?

Onde estão as Cores?

Onde estão?

 

Crendo em descrer no invisível

cansei da rotina

         roda, gira, cala, grita

a dor regida pela busca insana da alegria fria

e silencia a voz interna que suplica:

PARE e reflita:

“Que dizem os grandes que são resolutos sobre o viver feliz?”

 

Realmente dizem que:

“além das poeiras da consciência

está o caleidoscópio da luz

m.u.l.t.i.c.o.l.o.r.i.d.a.

emitida pela ALMA”

 

Onde estão as Cores?

Onde estão as Cores?

Onde estão?

 

CÁ estão as Cores!

Cá estão as Cores!

Cá estão!

 

“Permeie a luz da alma em tua consciência

e reflita as cores de tua real existência”

Gostaram da letra? Então ouçam a música:

http://www.myspace.com/caminhovaikuntha

 

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Os olhos do conhecimento

7. As entidades vivas neste mundo condicionado são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente. 8. Assim como o ar transporta os aromas, a entidade viva no mundo material leva de um corpo para outro suas diferentes concepções de vida. Com isso, ela aceita uma espécie de corpo e ao abandoná-lo volta a aceitar outro. 9. A entidade viva, aceitando esse outro corpo grosseiro, obtém um certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, que se agrupam ao redor da mente. Ela então desfruta um conjunto específico de objetos dos sentidos. 10. Os tolos não conseguem compreender como a entidade viva pode abandonar seu corpo, nem conseguem entender a espécie de corpo que ela usufruirá sob o encanto dos modos da natureza. Mas aqueles cujos olhos estão treinados em conhecimento pode ver tudo isto. 11. Os transcendentalistas diligentes, que estão em auto-realização, podem ver tudo isto com bastante clareza. Mas aqueles cujas mentes não são desenvolvidas e que não estão situados em auto-realização não podem ver o que está acontecendo, mesmo que tentem. (Bhagavad-Gita)

Estes versos do capitulo 15 do Bhagavad Gita descrevem bem a idéia de “olhos do conhecimento” que citei anteriormente. O que devemos olhar? Onde depositaremos nosso olhar? Primeirante vem a idéia de uma luta árdua com os sentidos e a mente sendo que eles são frutos de concepções de vidas pasadas que se refletem agora. Ouvidos, bocas, nariz, sensações, emoções, traumas, fobias, todas essas coisas que envolvem a mente e os sentidos, ou que definem nossa personalidade são frutos dos pensamentos que cultivamos durante vidas e vidas. Assim, concluindo aquele pensamento sobre felicidade e tristeza, pude perceber que as minhas alegrias e insatisfações eram frutos da minha personalidade, ou deste “fruto de pensamentos de vidas passadas” que sou. Quando falo dessa ligação, estou abordando das duas formas: minha personalidade define o que me faz ou não feliz, o que me abate, o que me alegra, o que me importa ou não, e ao mesmo tempo, a cota de felicidade e tristeza que recebo também é resultado do que fiz em vidas passadas. Um pouco complexo, né? Isso que falei resumidamente seria a tal lei do karma que falamos tanto e mal compreendemos. A questão não é ter bom ou mau karma, pois este traz tanto o bom quanto o mau para nós, e isto acontece na medida da qualidade de nossas atividades. Aquela velha idéia de que “colhemos o que plantamos…” Então, como os “olhos do conhecimento” vão me ajudar a sair daquele drama bem apresentado por Vinicius de Moraes em seus poemas? Bem, colocar esta nova visão em mim, realizando-a por completo é entender até que ponto eu sou aquilo que sinto, aquilo que me atinge, que me perturba. Será que sou aquilo? Será que sou aquela dor, ou aquela alegria? Na verdade, de fato, parecemos está a mercê dessas emoções, mais do que a possuimos (não tenho tristeza, ou alegria, sou o produto da alegria, da felicidade, da aflição). Parece que elas são tão temporárias quanto os objetos em nossa volta, quanto nossos desperatodores que um dia se quebrarão, como a comida que um dia será digerida, como como todas as coisas que nos rondam e são transformadas, colocadas em novos ciclos. Aí está o ponto. Em que novos ciclos colocarei estes sentimentos antagônicos? Talvez no ciclo da compreensão do porquê da existência deles, de eles serem resultados do karma, do olhar sobre as concepções do “eu sou” neste vida (frisa-se  aqui que já fui e provavelmente serei muitos “eu sou”s) e assim nasce o caminho das indagações da existência: quem eu sou? de onde vim? para onde vou?. Bem, depois de percorrer este caminho, acabo até me esquecendo o que foi mesmo que me deixou feliz ou triste, tudo, de repente, não mais que de repente, se torna outra coisa, uma coisa maior, uma coisa diferente..

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E é de repente

SONETO DE SEPARAÇÃO

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

é… de repente, não mais que de repente, no vemos em situações tão antagônicas. Tamanha alegria, tamanha tristeza (ou apatia). Apesar de minha existência ínfima neste mundinho já experimentei um bocado essa contradição, essa montanha-russa de sentimentos e meio que aprendi a olhar para essas situações de maneiras bem diferentes. Depois que li no Bhagavad-gita que a tristeza e alegria são como as estações de inverno e verão e é preciso aprender a tolerá-los, me dei conta que minha vida era composta de ciclos redondos, infinitos, previsiveis: as coisas estão assim, depois ficarão assados, para depois ficarem assim de novo e assado de novo…

é claro que minha compreensão acerca disso não ultrapassou os limites da minha “guerra de pensamentos” porque no campo da realidade ainda me deixo me abater e me bater nestas portas abertas e fechadas desse ciclos. Mas voltando a questão do meu olhar sobre essas situações, hoje percebo que quando estou bem, ou feliz ou alegre ou qualquer outra coisa, olho para aquela “felicidade” e penso:”quanto tempo vai durar?”, “o que posso tirar dessa felicidade agora para que eu possa usar depois?”, “estou feliz pela coisa certa, pelo o que vale a pena?”…. e na tristeza, penso: “pelo menos não é eterno, pelo menos, alguma hora, a felicidade vai voltar pra me animar a vida e para esquecer essa infelicidade (ou para me cegar os olhos mesmo)”, “é ruim ser infeliz, mas será que é pior não saber que é infeliz? qual a verdadeira infelicidade? será que é essa de passar as felicidades ansiosa para não perdê-la e as tristezas ansiosa para que passe?”

o caminho do meio, a linha nem esticada demais, nem folgada, onde está? este poema de vinicius retrata bem que os gestos significados,os objetos, as palavras de um lado (felicidade) ganham um novo olhar do outro lado (tristeza). Algo como dois lados de uma moeda. 

E quem sou eu? quem é este ser que fica a mercê do cara e coroa da vida? no lugar de mudar de olhares (olhar pra cara, olhar para coroa), o que preciso mesmo é de novos olhos, os olhos do conhecimento…

(to be continued)

 

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Nossa fuga

Tudo bem. Eu sei. Estou negligenciando este blog. Talvez porque a velocidade da minha mente não acompanhe a vontade de ligar o computador e escrever. Às vezes sinto que vou explodir com tantos pensamentos, tantas indagações… Bom, poderia falar de cada uma dessas coisas, porém, agora, vou preferir transcrever (ou seja, “copiar”, “colar”) um email que mandei pra um amigo meu onde desabafo minha agonia de tantos pensamentos que não sei até que ponto eu falo ou não falo para as pessoas que conheço. Aí vai o email (ou um pedaço do email):

 …tava pensando que este mundo foi feito  pra gente morrer. naum é uma visão pessimista, ou depressiva da vida, mas se a gente parar pra pensar, se o homem resolver  voltar totalmente a natureza, que é a fonte de sua existência corpórea, que constitui o corpo q ele possui, esta mesma natureza parece querer matá-lo a cada momento. seja através de animais ferozes, pençonhentos, mosquitos com doenças, bactérias poderosas. tudo quer matar o  homem, quase uma perseguição a sua morte. o homem corre e a mãe natureza que o criou corre atrás querendo destruí-lo. é muito estranho. aí, fugindo dela, criamos esses mecanismos, estas fugas com casas limpas, protegidas , alimentos adequados, limpos, venenos para matar animais pençonhentos e assim vai a lista de protetores q usamos todos os dias para sermos diferentes da natureza cruel deste corpo. nem limpo somos! precisamos sempre da água, pegamos o cheiro emprestado das outras coisas porque nosso cheiro não agrada. ou seja esse corpo é feio, sem graça e fedorento! e se pensar no quesito mulher a coisa piora. precisamos nos depilar porq nosso pêlo natural é feio! (mas no homem pode, é o natural bonito, só não pode muita barba). arrancamos, arrumamos, botamos, damos um jeito para aparentarmos ser algo interessante… não aceitamos o que somos, na verdade nem estamos realmente identificados com estes corpos porq queremos constantemente mudá-los para algo mais interessante. porq não aceitamos o corpo? porq? parece q catamos neste corpo uma tentativa de ter sensações que ele não permite: beleza, limpeza, aromas, prazer… estamos mesmo no  lugar errado e até o maior dos materialistas sabe disso porque ele vive para não ser este corpo, ou para pelo menos torná-lo algo melhor. mas o algo melhor já está na gente.tá aqui dentro. e eu não vejo, não vejo.essa nuvem cinza do corpo inútil, problemático e feio me impede de ver essa beleza, esse aroma, essa limpeza que eu não tenho. minha visão não chega lá dentro. esses pensamentos às vezes me corroem sabe? me entalam a garganta…

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O Começo

Começar do começo. A fonte de grandes dúvidas minhas começou quando eu tinha uns 14 anos, na terrível e insuportável fase da adolescência.

Observando as pessoas em minha volta, meus parentes, minha mãe, meus amigos, notando as histórias “mastigadas” das novelas (a TV era meu segundo círculo social), notei que a vida parecia tão vazia… Para que serve tudo? Eu nasci, eu estou crescendo, vou estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, constituir família (filhos, marido, afins), envelhecer, ganhar netos e morrer feliz na tranquilidade do meu lar! Ops, ou seja, eu vou viver apenas para morrer? Para , pelo menos, morrer tranquila, em paz? Ora, se a vida se resume a isso, cá estou eu para a morte! Qual o problema? Eu farei o que todos farão ou fazem? Viverei como mais uma mulher, mãe, estudante, trabalhadora, avô e fim? Por que não pular estas etapas tão repetitivas e ir direto ao ponto final?

Eram assim meus pensamentos. Um pouco macabro, não? Mas, de fato, eles não eram simplesmente o resultado de uma fase conturbada e difícil. O que brotava em mim era um desligamento das construções do mundo, um despreendimento dos conceitos, das regras da vida. Minha rebeldia adolescente não era quebrar regras sociais ou morais, mas quebrar as regras da naturalidade. Viver para morrer? E depois que morrer, quem serei eu? Pó? Terra? Comida de minhoca? Mas eu me sinto tão maior do que isso…

Foram momentos dificeis na minha vida. Imagina: acordar, comer, ir pra escola, andar, conversar, tomar banho. escovar dente, etc, etc, etc, etc, sabendo que tudo isto está sendo feito até que nada faça sentido, já que um dia eu deixaria de existir… A não existência pra mim era algo duro de encarar, de acreditar, de realizar. Eu sou maior que a não existência, mas estou submetida a ela! POR QUÊ?! A sensação de vazio que nascia em mim aumentava a cada dia que pensava nisso e percebia que eu era uma peça no maquinário da vida que um dia iria perder a utilidade e desaparecer. Lembro desses dias de pensamentos doloridos, sufocadores… Lembro que às vezes deixava de comer, de tomar banho, de fazer coisas normais pra saber se eu consegueria descobrir quem era este meu ser de revolta contra o ciclo “normal” da vida. Até que… o dia fez-se o eterno.

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