Algo tem se tornado muito comum para mim esses dias: encontrar pessoas com dúvidas. Quando falo dúvidas não me refiro há uma mera dificuldade de entender ou lidar com algo. São dúvidas mais difíceis e complicadas: as dúvidas da escolha. Sabe aqueles momentos da sua vida em que você se vê diante de dois? ou duas? Aquele momento em que você realmente se sente dono de seu destino, porém, depois da escolha, totalmente a mêrce dele? O pior é que os dois caminhos ou as duas opções normalmente nesses momentos são qualitativamente válidos com suas vantagens e desvantagens, porém, aparentemente você sabe um pouco a que futuro cada um deles vai te levar e aí vem o momento crucial: o que quero para o meu futuro?
No Bhagavad Gita é dito que a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações. Essa parece ser basicamente nossa condição nesta situação: mil e uma ramificações sem começo, nem fim que nos deixam um tanto confusos e perdidos. O Gita explica que isso surge de uma pessoa irresoluta, ou seja, não resolvida, não esclarecida do que quer. Porém, como vamos saber o que queremos? De fato, estes momentos parecem nos mostrar que nada sabemos sobre o querer, sobre nossas vontades, sobre porque, o que, como e para quê desejamos algo. Resumindo, nossos desejos, que são frutos de tantas e tantas situações desde frustrações, traumas, experiências boas, exemplos pessoais na nossa vida, fazem com que, nestes momentos, reconhecemos que não sabemos desejar ou não sabemos a dimensão do quanto isso nos afeta. E aí vem o pensamento que eu queria expor diante do que pude observar em mim e nas pessoas que estão nessa condição irresoluta: não temos referência! Não temos nada que nos guie para de certa forma canalizar nossos desejos para algo que possivelmente nos oferecerá a sensação de que entendemos porque fizemos determinada escolha, porque temos pelo menos alguma referência. Quando falo referência penso em todos os aspectos morais, éticos, religiosos, etc… Penso no que nos diferencia dos animais, no que nos possibilita crescer como seres humanos e sermos pessoas melhores. Penso no que vou construir aqui, o que vou deixar para as futuras gerações.
No Bhagavad Gita é dito que a ação é composta de cinco elementos: o esforço, a corpo, o eu, os sentidos e Deus. O eu deseja, o corpo atua, os sentidos acompanham, o esforço acontece e Deus possibilita com que a ação seja executada. Este processo descreve basicamente o caminho do tal livre-arbitrio. Esta é a nossa liberdade: a escolha. E Deus, Krishna, de acordo com o nosso karma, nos dá permissão de agir como desejamos, porém, Ele também permite com que a lei natural da ação-reação aconteça para que possamos compreender quais são as conquências de nossas ações e assim possamos notar que há uma necessidade de referência nas nossas escolhas. Bem, e se a situação for um pouco diferente? Se eu tenho um desejo, porém antes de executar, através da ação, este desejo eu peço antes a Krishna que me oriente, que me dê a referência do que deve ser feito, será que as coisas mudam? Sim, principalmente porque Krishna está acima das leis do Karma e assim ele possui um cuidado especial aqueles que querem agir em nome de Sua vontade. Esta é minha referência de vida: Krishna. Tenho um milhão de dúvidas do que quero, dos meus desejos, das minhas escolhas, porém, quando me vejo nesta situação dos dois ou duas eu escolho um: Krishna. Se alguns destes caminhos me mostrarem a possibilidade de conhecer, de servir e amar a Krishna eu sei que posso encontrar verdadeira satisfação, mesmo que seja um caminho de pedras, pedregulhos e grandes muros.
“Quando a inteligência, a mente, a fé e o refúgio de alguém estão todos fixos no Supremo, então, através do conhecimento pleno, ele purifica-se por completo dos receios e desse modo prossegue resoluto no caminho da liberação”
(Bhagavad Gita, Capítulo 5, verso 17)
Eu não sei qual é a sua referência e não estou aqui obrigando que seja a mesma que a minha, porém, gostaria que pensássemos a importância de haver uma, alguma, ou uma mínima referência na nossa vida sabendo entender a valor de nosso livre-arbítrio. Busque sua referência e veja a que caminhos ela vai te conduzir…