Archive for outubro, 2008

E é de repente

SONETO DE SEPARAÇÃO

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

é… de repente, não mais que de repente, no vemos em situações tão antagônicas. Tamanha alegria, tamanha tristeza (ou apatia). Apesar de minha existência ínfima neste mundinho já experimentei um bocado essa contradição, essa montanha-russa de sentimentos e meio que aprendi a olhar para essas situações de maneiras bem diferentes. Depois que li no Bhagavad-gita que a tristeza e alegria são como as estações de inverno e verão e é preciso aprender a tolerá-los, me dei conta que minha vida era composta de ciclos redondos, infinitos, previsiveis: as coisas estão assim, depois ficarão assados, para depois ficarem assim de novo e assado de novo…

é claro que minha compreensão acerca disso não ultrapassou os limites da minha “guerra de pensamentos” porque no campo da realidade ainda me deixo me abater e me bater nestas portas abertas e fechadas desse ciclos. Mas voltando a questão do meu olhar sobre essas situações, hoje percebo que quando estou bem, ou feliz ou alegre ou qualquer outra coisa, olho para aquela “felicidade” e penso:”quanto tempo vai durar?”, “o que posso tirar dessa felicidade agora para que eu possa usar depois?”, “estou feliz pela coisa certa, pelo o que vale a pena?”…. e na tristeza, penso: “pelo menos não é eterno, pelo menos, alguma hora, a felicidade vai voltar pra me animar a vida e para esquecer essa infelicidade (ou para me cegar os olhos mesmo)”, “é ruim ser infeliz, mas será que é pior não saber que é infeliz? qual a verdadeira infelicidade? será que é essa de passar as felicidades ansiosa para não perdê-la e as tristezas ansiosa para que passe?”

o caminho do meio, a linha nem esticada demais, nem folgada, onde está? este poema de vinicius retrata bem que os gestos significados,os objetos, as palavras de um lado (felicidade) ganham um novo olhar do outro lado (tristeza). Algo como dois lados de uma moeda. 

E quem sou eu? quem é este ser que fica a mercê do cara e coroa da vida? no lugar de mudar de olhares (olhar pra cara, olhar para coroa), o que preciso mesmo é de novos olhos, os olhos do conhecimento…

(to be continued)

 

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Nossa fuga

Tudo bem. Eu sei. Estou negligenciando este blog. Talvez porque a velocidade da minha mente não acompanhe a vontade de ligar o computador e escrever. Às vezes sinto que vou explodir com tantos pensamentos, tantas indagações… Bom, poderia falar de cada uma dessas coisas, porém, agora, vou preferir transcrever (ou seja, “copiar”, “colar”) um email que mandei pra um amigo meu onde desabafo minha agonia de tantos pensamentos que não sei até que ponto eu falo ou não falo para as pessoas que conheço. Aí vai o email (ou um pedaço do email):

 …tava pensando que este mundo foi feito  pra gente morrer. naum é uma visão pessimista, ou depressiva da vida, mas se a gente parar pra pensar, se o homem resolver  voltar totalmente a natureza, que é a fonte de sua existência corpórea, que constitui o corpo q ele possui, esta mesma natureza parece querer matá-lo a cada momento. seja através de animais ferozes, pençonhentos, mosquitos com doenças, bactérias poderosas. tudo quer matar o  homem, quase uma perseguição a sua morte. o homem corre e a mãe natureza que o criou corre atrás querendo destruí-lo. é muito estranho. aí, fugindo dela, criamos esses mecanismos, estas fugas com casas limpas, protegidas , alimentos adequados, limpos, venenos para matar animais pençonhentos e assim vai a lista de protetores q usamos todos os dias para sermos diferentes da natureza cruel deste corpo. nem limpo somos! precisamos sempre da água, pegamos o cheiro emprestado das outras coisas porque nosso cheiro não agrada. ou seja esse corpo é feio, sem graça e fedorento! e se pensar no quesito mulher a coisa piora. precisamos nos depilar porq nosso pêlo natural é feio! (mas no homem pode, é o natural bonito, só não pode muita barba). arrancamos, arrumamos, botamos, damos um jeito para aparentarmos ser algo interessante… não aceitamos o que somos, na verdade nem estamos realmente identificados com estes corpos porq queremos constantemente mudá-los para algo mais interessante. porq não aceitamos o corpo? porq? parece q catamos neste corpo uma tentativa de ter sensações que ele não permite: beleza, limpeza, aromas, prazer… estamos mesmo no  lugar errado e até o maior dos materialistas sabe disso porque ele vive para não ser este corpo, ou para pelo menos torná-lo algo melhor. mas o algo melhor já está na gente.tá aqui dentro. e eu não vejo, não vejo.essa nuvem cinza do corpo inútil, problemático e feio me impede de ver essa beleza, esse aroma, essa limpeza que eu não tenho. minha visão não chega lá dentro. esses pensamentos às vezes me corroem sabe? me entalam a garganta…

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