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O Quebra-Cabeça

Meu pensamento de hoje irá puxar uma idéia bem complicadinha mas que sempre nos persegue: a Certeza.

Tenho passado por muitas experiências de consolidação de perspectivas de planos, de coisas do futuro. Estou num momento de reoorganização do quebra-cabeça da minha vida, porém, toda vez que olho pra esse quebra-cabeça quase completo, tão bonitinho, tão certinho, em vez de sentir um natural alívio de ‘pronto, agora minha vida está certinha!’, o que surge em mim é: ‘como posso ter certeza da certeza? quem me garante que esse quebra-cabeça permanecerá inteiro?’. Normalmente esta sensação nos aflige quando algo de inesperado nos acontece: um acidente, a morte de alguém querido, a perda de um emprego, a notícia de uma gravidez. Em algum momento da nossa vida, quando tudo parecia se encaminhar tão bem, tão tranquilamente, de repente, torna-se um turbilhão que nos engole e nos deixa tão perplexos, tão assustados, com a sensação de que fomos enganados pela certeza da vida.

Cada vez mais intelectuais e estudiosos têm se voltado a questão do caos, do incerto, do constante mutável como algo inevitável na nossa vida que precisamos aprender a conviver. O ser humano hoje não pode mais ter certeza de nada: do que acredita, do que tem, do que ganhou, do que vai ganhar. Vivemos na era das calamidades, das doenças inesperadas, das guerras assustadoras, dos perigos que de evitáveis se tornam inevitáveis. É dito em uma  das escrituras da consciência de Krishna que este mundo é ‘um perigo a cada passo’, expressão que condiz bem com as análises mostradas anteriormente, porém, será que é assim que temos que viver? Conformados com a idéia de que nada é certo? E voltando-se o olhar para o outro lado: porque queremos a certeza? Por que queremos as coisas do jeito que estão? Acho que a certeza nos dá um certo sentido de segurança e de controle e a incerteza, consequentemente, nos tira todos estes sentidos. A incerteza nos coloca na posição de não controladores, não senhores de nossas vidas, não independentes, mas sim controlados e dependentes de um conjunto maior que é este mundo, que é esta vida. Porém, se observarmos os grandes santos da humanidade o que mais transparece em seus discursos é uma tranquilidade e paz em meio as incertezas deste mundo. Eles parecem ter a certeza de algo mesmo em meio as calamidades desta natureza material. Eles parecem não sentirem o externo, as dualidades da vida, as incertezas da vida. Parece existir algo de resoluto em seus corações. Mas o que seria isso?  

” Esta minha energia divina que consiste nos três modos é muito difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la” (Bhagavad Gita, Capítulo 7, verso 14)

A rendição. Esta parece ser a palavra que define esta certeza dos santos em meio as incertezas e calamidades da vida. Render-se ao Supremo, render-se ao Eterno, render-se ao que nos completa e que é a fonte dos certos e errados, dos bons e ruins. Talvez meu maior problema em lidar com este quebra-cabeça encaixadinho da vida é minha falta de compreensão de que ele já está completo há muito tempo e que depende de mim apenas fazer com que ele seja visto por meus olhos pequenos e limitados. Talvez cada etapa de certeza da minha vida seja mais um motivo para eu desistir de montar meu quebra-cabeça, de ser a controladora das peças da minha vida. O que apenas preciso é me render e assim, quem sabe, ver meu quebra-cabeça  pronto, encaixado e completado pelo Senhor da minha existência…

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